Na cela de quinze por quinze,
Milhões de condenados.
A cada um, travesseiro e toalha.
Horários do banho e comida.
Um carcereiro simpático
disse-lhes para não chorarem,
não cantarem e não rirem,
se lhes adviesse uma memória hilária.
“Melhor dormirem o dia todo,
deixarem os livros de lado,
abandonarem as esperanças,
cortejarem a monotonia.”
Foi simpático da sua parte
dar um sentido à agonia
de quem se perguntava
como evitar a loucura.
Havia um outro homem,
de ar agressivo, feroz,
que os encarava, triunfante,
com um sorriso de meia boca,
como quem ri de desprezo.
Milhões por este ameaçados,
Milhões na cela abafada,
Milhões sem receber visitas,
Milhões com as vistas cansadas.
Milhões lembrando-se de tudo –
porquanto a vida ainda passava
no cubículo -, sentindo a vida
que fora do presídio carpia.
Cantavam, discretos. Riam, dolentes,
a se consolarem ante a difícil jornada.
O choro, o espasmo e a revolta
antecedem a luta renhida.
Milhões sentados na cama rija,
a entrarem para a história da raça.
Como aqueles um dia encarcerados,
igualmente, por injusta investida
de homens e mulheres de alçada.
Milhões de heróis,
depois de ultrapassada
a pena que não lhes cabia.
Milhões representados na figura de um encarcerado. Milhões a lutar pela liberdade da esperança coletiva. Parabéns pelo poema, o qual bem traduz o momento difícil a que nós, brasileiros, experienciamos nos últimos tempos, nos últimos dias especialmente. #LulaLivre #LulaValeALuta