Lisboa é a cidade onde eu vivi por mais tempo. Ao todo, são 13 anos de convivência com as suas ruas e ruelas.

Tenho a sorte de, atualmente, morar no “centro histórico “. Sinto-me pertencente a esta cidade para além do tempo presente. É como se o passado de Lisboa fosse o meu também.
Eu e ela, sobreviventes de sismos aterrorizantes e donos de glórias notáveis, nem todas estas dignas de nota, visto que erigidas sobre carcaças de civilizações inteiras.
Lisboa, tão humana quanto eu, vive assombrada por fantasmas. Com a língua contaminada pelo amargor do sangue derramado em seu nome, assemelha-se a mim, nas noites em que me atormentam arrependimentos tardios.
Por outro lado, tal como ela, as minhas ruas internas estão povoadas por intrusos malignos. Perigosos, porque são hábeis em inculcar culpas ilusórias e avivar medos irrelevantes, como este de ficar sozinha na História e de se tornar a rabeira da Europa, que, no entanto, ao contrário de nós, definha.