Ontem, depois de defender a minha tese de doutorado, saiu comigo à rua um sorriso.
Há tempos eu não tinha esta companhia, já nem me lembrava quando foi que senti os músculos da face relaxados assim. Estava estranho e era preciso registrá-lo.
Fiz um autorretrato em frente ao elevador, atrapalhando uma turista, que tentava fotografar o veículo lisboeta, antes de ele subir pela Calçada da Glória.
O meu sorriso era mais importante do que a ansiedade desta senhora. Um sorriso raro e transparente como o meu merecia o registro urgente. Sorriso uraniano, colado ao nodo norte e à lua, no céu.
Urano em Touro, já tão perto do meu Sol, revolvia-me na apatia lamacenta em que me encontrava, transportando-me de volta ao meu caminho. Abrupto e gentil, como se eu fosse um filhote de gato teimoso.
Ressuscitado o meu mestre interior, eu sorria. Pelas ruas de Lisboa, sozinho, euforicamente satisfeito, eu sorria.
Sem saber se o sorriso duraria por mais um minuto que fosse, achei melhor tirar rapidamente um autorretrato. O elevador da Glória queria abraçar outra vez esse sorriso há tanto tempo perdido. Que se danasse a sofreguidão banal da turista impaciente.