Berma

Escrevi o poema Berma no último dia 28 de Junho. Permita-me partilhar consigo que este tem sido um período em que tenho buscado desenvolver uma nova espiritualidade, concebendo um poder superior a mim, entidade metafísica capaz de lidar com os acontecimentos que estejam para além das minhas possibilidades.

Normalmente, buscas como estas ocorrem em períodos de crise existencial. Tem sido este o meu caso. A minha situação é um tanto maus complicada, porque as minhas características pessoais desafiam os preceitos de uma certa cultura política baseada em religiosidades reacionárias. Eu tinha e tenho duas alternativas: adaptar-me ao meio, à custa da minha sanidade mental, ou traçar um caminho próprio, sob a crítica de gente querida.

Penso que Berma repercute esta angústia. Portanto, o meu deus haveria de se assemelhar a mim. Ele surge, “feito mancha”, na “berma de estrada afastada”, onde um eu feminino ferido o enxerga sob uma luz diáfana, sem saber ao certo se se trata dum deus ou de um outro alguém capaz de aumentar o seu terror e sofrimento.

A música, por sua vez, é antiga. Foi composta, inicialmente, para um outro poema, Periquito, publicado no meu livro, Um grifo-pedrês. Revi-a na última semana e conclui que o seu compasso e ambientação combinam com ambos os poemas. Num próximo concerto, a platéia será surpreendida com um ou outro, quando esta melodia lânguida e sombria surgir.

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