Cegueiras

Havia o casal de cegos, guiando-se um ao outro em direção à estação Marquês de Pombal. Havia a mulher cega e insegura a transitar entre as lojas desta mesma estação. Havia o homem cego guiado por uma mulher que coreografou uma manobra entre os bancos de um vagão de metrô, antes de abrir passagem até o lugar onde ele se sentou. Havia o belo jovem cego… Continuar lendo Cegueiras

Firmeza

Uma mulher idosa portuguesa entrou no ônibus, no ponto do Largo do Calvário. Emergia, cansada, da noite fria. Pareceu-me mal agasalhada. Levava duas bolsas grandes, repletas do que talvez fossem papéis e pedaços de panos. As bolsas não pareciam pesadas. Levaria ela também um cobertor? Mantinha-se atenta e firme, sem sequer cambalear ante os solavancos do veículo. Falava sozinha. Usava o cabelo amarrado, com um pequeno coque no alto … Continuar lendo Firmeza

Fúnebre

Um homem jazia fechado num saco mortuário branco, em frente à câmara de Lisboa. Seu cadáver era velado por uma idosa que, entretanto, deixou-o, provavelmente após lhe oferecer uma prece. Supus que o defunto estava à espera de quem o levasse dali, que ele era um velhote querido e que seu passamento fora rápido. Seria aquela senhora sua viúva? Um policial, posicionado a cerca de dois … Continuar lendo Fúnebre