Uma cápsula de veneno abre-se no céu, esplêndida.
Espalha um odor funesto de desesperança.
Como quando plástico é queimado aos montes
e a fumaça resultante esquenta o ar
com poeira mortífera, escura e densa.
Eu morro com as minhas vísceras em chamas,
enamorado da víbora que me abraça,
no palco do sonho, onde me apavoro
ante a queda duma gárgula gigantesca.
E eu já não me espanto,
deito-me e me entrego à saudade tétrica,
navegando pela loucura limítrofe,
até descansar num vórtex,
enquanto a fumaça avança.
*
“Plástico” custou-me muito tempo e energia.
Sou um autodidata nesta coisa de fazer música, o que torna o ofício num desafio enorme para a minha alma de artista.
Porque eu tenho uma casa 10 em Virgem e busco a perfeição como quem busca uma pílula milagrosa capaz de arrancar dores das mais fundas.
Isto não existe, eu sei – e o que me falta é autoconfiança e gestão do tempo, afinal, tenho capricórnio de casa 2 e já me conformei com a perspectiva de que a minha integralidade nasceu há pouco e ainda demora a se fazer, nesta vida cheia de imprevisibilidades.
O que me salva é a coragem e foi dela que me vali para fazer o que fiz com esta música, num domingo em que a Covid começa a sair de mim, ao que parece. Pois é, a minha voz nesta faixa ainda está cheia deste vírus mortal.
Fica o registro da sua passagem nefasta pela minha garganta, como a minha resposta cabal ao desafio de fazer a minha vida uma vida musical e repleta de rimas fáceis.
Sozinho e disposto a ir além de mim mesmo, porque eu tenho um Jútiper na casa 5, em Áries; Júpiter este cada vez mais louco para existir nos palcos da vida.
Que assim sejam as vitórias dos abnegados e dos justos. Eu vencerei, por que sou um homem justo, e a Palestina vencerá, porque é justo que a Palestina vença.
“Plástico” é sobre tudo isto.
Espero que você goste disto tudo.
Sim?