Boataria sórdida

Uma coisa muito triste e injusta tem acontecido com os imigrantes ditos “indianos”, grupo que reúne também nepaleses, paquistaneses e bengaleses.

Trata-se de uma boataria que se tem generalizado nas redes on-line da extrema direita, segundo a qual homens como estes têm vindo a agredir sexualmente mulheres e a se envolverem em episódios de violência, por toda a zona metropolitana de Lisboa.

Os motoristas de aplicativo são as principais vítimas destas difamações. A dificuldade de se comunicarem em português – e mesmo em inglês – de alguns deles pode ser uma das causas para desentendimentos.

Não se pode desconsiderar o fator cultural, visto que, nas suas culturas de origem, a mulher costuma ocupar espaços sociais separados dos dos homens. Isto deve tornar mais difícil o estabelecimento de vínculos de amizade entre pessoas de géneros diferentes.

Eu reparo que eles olham com curiosidade excessiva a mulheres ‘ocidentais’, autorizadas a usarem roupas que deixam muita pele à mostra. O que, pra nós, é comum, para eles deve ser estranho e, acima de tudo, provocante.

Porém, dizer que eles saem por aí cometendo crimes sexuais parecem-me exagerado e, como eu disse, injusto.

São, na sua maioria, homens que tem trabalhado arduamente, em setores da economia desprezados pelos portugueses. Sem falar nos casos recorrentes de situações análogas à escravidão a que muitos têm sido submetidos.

As diferenças culturais são sempre motivos de tensões, no que diz respeito à adaptação de imigrantes. O tempo de convivência e o esforço mútuo de compreensão das diferenças ajudam a dirimir os conflitos.

Todavia, o que se vê é a instrumentalização destas diferenças com finalidades políticas das mais sórdidas. Aliás, nada me tira da cabeça que são alvo também porque partilham da mesma origem étnica do atual primeiro-ministro, mas isto é uma conjectura.

O fascismo é mestre em criar monstruosidades e, normalmente, às vítimas da sua sanha por poder são sempre os mais marginalizados.

Se não houver um esforço para superar estes conflitos, a escalada de violência sobre esta população será inevitável, você não acha?

2 comentários sobre “Boataria sórdida

  1. Em relação à comunicação, ante o escrutínio a que todos nós somos submetidos ao falar o português com sotaque e vícios de linguagem ou mesmo ao não falar português, não chega um momento em que nos sentimos cansados de tanto lutar em vão para um entendimento? Às vezes, calar-se, isolar-se ou refugiar-se podem ser ações consideradas negativas e ligadas à suposta má vontade em integrar-se, mas não será também uma estratégia de sobrevivência, evitando confrontos que não nos beneficiam, principalmente na condição de estrangeiro? Por que motivo tentar dialogar com quem faz pouco ou nenhum esforço para nos entender em situações corriqueiras? Se isso é difícil para falantes do português estrangeiros em Portugal, imaginemos como será para estrangeiros falantes de outros idiomas, mesmo o inglês com sotaque outro que não o jeito de pronunciar eleito correto.

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